segunda-feira, 23 de novembro de 2009


Tu que de mil mesuras me condenas
A tantos castigos e dor sem fim.
Oh rei que sem saber
Tanto comandas minha vontade,
Acalentas tanta alegria e tristeza em mim.
Quantas horas passadas sem dormir.
Quantas horas mais meu senhor?
Sem saber o que pensar
Penso apenas pensar mal assim.
Meu pensamento não tem vontade
Voa para longe de mim.
Em qual lonjura se encontra agora?
Que eu não sei onde o perdi.
Meu rei e meu senhor
Onde e quando terá fim?
Não me reconheço neste pranto
Que nunca outrora em mim parou
Penso que será do sono
Que o senhor meu rei me levou.

Meu rei me embala em melodias doces
E para mim tem sabor a fel.
Queria eu a paz que tivera antes!
A saudade que tenho em mim
De um momento sem ter que esquecer
O quanto eu sofro assim!


Efémera melodia me trazes
Leve brisa suave
Que segredos escondes colhidos
Em mares nunca navegados.
Enquanto sopravam tormentas
Em tantos caminhos e encruzilhadas
Que lembra demónios pelando
Pela alma dos condenados.

Brisa fresca matutina,
Áurea rósea imaculada.
Tão bela!
Tão perfumada,
Fosses tu mais bravia
E eu seria arrastada.

Deixam marcas geladas
Essas carícias em meu regaço
E eu sonho com chama ardente
Que sempre cuidei em não sentir,
Mas fora tanta a promessa!
Tanta e tão bem enlaçada
Que descurei no prevenir
E acabei enregelada.


Estrela que tremes no alto céu
Entre tantas outras sem igual
São tão belos teus reflexos
Que fazem inveja ao luar.

Não deixes tinhosa a lua menina
Empinada em seu manto de luar
Lembra as grandes damas,
Com seus longos vestidos
Em todo o seu esplendor,

Sabe a lua altiva e sábia
Da natureza da sua adversária
Reconhece que a insignificância
Que a estrela mostra é falsa
Não fosse o sol amante da lua,
Um grande astro caloroso e ardente,
Que olha invejoso ao passar
A grandeza e a liberdade deixada
Por cada estrela cadente.

Tal é a zanga dos dois
Em dias e noites assim
Chegam algumas vezes até
A se baterem por fim.

Os ciúmes da grande lua são esquecidos então
O grande astro a beija sequioso
Deixando o mundo na total escuridão.

DUAS ALMAS!

A minha alma está dividida
Em duas metades desiguais,
Metade de mim é fada
Que canta sem parar,
Outra metade é bruxa
Que se alimenta do luar.

Uma parte de mim
Voa livre pelos ares
Outra arrasta-se carrancuda
Sem asas para a puxar
E vive escondida nas sombras
Onde se fortaleces nas fraquezas
Que a deixo agarrar.

Uma sonha escrever
Poesias e histórias de encantar
A outra tinhosa e cruel
Lança feitiços e enguiços
Noites a fio sem parar.

Metade da minha alma
Sonha acordada sem contar
A outra vive acordada sem sonhar.

São as duas tão diferentes
Mas que a magia sempre uniu
Resta saber qual a mais forte
Quem me guia,
Quem me rege,
E qual comanda a minha sorte.
Caminhos perdidos de desencontros achados
Encruzilham mentes e corpos
Lançando-os em becos mal frequentados,
Enquanto outros desistem
Sentados nas bermas das estradas
Há espera de serem encontrados.

São caminhos que tomamos
De olhos cegos e alma perdida
Fazendo percursos tenebrosos
Arrastando os pés sobre a terra árida.
De cabeça baixa escondendo os olhos,
Pendente sobre o corpo ferido
Já massacrado em outras lutas,
São traços de um caminhante exausto
Perdido há muito nas suas agruras.

Esperando serem encontrados
Se prostram de joelhos arrastados
À passagem de qualquer transeunte
Que lhe acene de sorriso rasgado.
Acreditam ter encontrado o seu salvador
Embarcando na sua demandada
Mas quando este segue seu próprio caminho
Caem novamente desistindo
De qualquer percurso ou caminhada.

Os que arriscam passagens pouco amistosas
Ferem os pés na sua passagem
Mas os anjos os erguem para que descansem
E curem as feridas mal curadas
Para deixa-los seguir novamente mal estejam saradas.
Voltam a arrastar-se no pó e no mato
Rasgando o corpo na passagem
Logo correm os anjos para socorre-los e consola-los.

Quais são os caminhantes mais audazes?
Os que vivem de verdade?
Os que se prostram mendigando a salvação da alma,
Ou os que se arrastam sem medo de ferir
Quer o corpo quer o coração, pois estes podem sarar?

Caminhar na vida deixa cicatrizes
E também feridas por curar
Se a vida é uma dádiva,
Vamos encolher-nos e esperar que passe?
Se temos a vida é para a viver
Seja deitada em almofadas de penas
Ou arrastando os pés sobre lâminas afiadas.